sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LECTIO DIVINA, Domingo, 29 de janeiro de 2012, 4º Domingo do Tempo Comum – Ano B


Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim (Gl 20.20)

TEXTO BÍBLICO: Marcos 1.21-28

A cura do endemoninhado de Cafarnaum
21Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava.
22E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas.
23E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo:
24Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
25E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te e sai dele.
26Então, o espírito imundo, agitando-o e clamando com grande voz, saiu dele.
27E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que È isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!
28E logo correu a sua fama por toda a província da Galileia.
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH)

1. LEITURA

Que diz o texto?
Pistas para leitura
Queridos servidores da Palavra”
O tema da “autoridade” é complexo e está bastante presente em nossos dias e, à luz do Evangelho que nos é apresentado neste Domingo, captamos também que era um tema discutido e debatido na época de Jesus.
A autoridade é algo bom e legítimo, necessário para levar adiante qualquer tipo de organização. No entanto, como toda realidade humana, pode desnaturar-se, pode corromper-se e desviar-se. A “corrupção” da autoridade legítima por excesso chama-se “autoritarismo”, e por deficiência, “ausência de autoridade”… Tanto uma quanto outra desnaturam o sentido genuíno da autoridade.
Para analisar o tema da “autoridade” e Jesus, contemplemos um pouco o Evangelho que nos reúne neste fim de semana.
Tendo formado o primeiro núcleo de seus colaboradores (cf. Mc 1,16-20), Jesus começa sua “atuação pública” na sinagoga de Cafarnaum, confrontando-se com um “espírito mau”. Age em dia de Sábado, dia especialmente consagrado ao Senhor pela fé judaica. Como qualquer varão adulto, Jesus é convidado a ensinar nesta celebração, e as pessoas ficam surpreendidas porque ele fala com autoridade. Em um primeiro nível, este “falar com autoridade” tem a ver com o fato de que Jesus não se apoia em outros mestres para transmitir seu ensinamento. Ele próprio faz a interpretação correta da Escritura, da Palavra de Deus. Além disso, porém, há outro sentido mais profundo deste falar com autoridade, o qual tem a ver com a personagem do espírito mau que aparece na cena.
O “espírito mau” (no original grego do Novo Testamento é pneumati akatharto) representa o mal em todas as suas formas: o pecado, o Diabo, a mentira, a destruição do homem, os que buscam despedaçar a obra de Deus… todo o mal e tudo o que é negativo que possamos imaginar.
O espírito mau, que prejudica aquele ou aquela que o possui, diante da pessoa de Jesus se descontrola de maneira violenta, revelando a identidade de Jesus. Diz-lhe claramente que o conhece e que é o Filho de Deus. Neste contexto, Jesus reage energicamente e impulsiona o espírito mau para duas coisas: em primeiro lugar, para que se cale e, em segundo lugar, para que sai do homem. O que Jesus disse, cumpriu-se de maneira total e definitiva…
Aqui aparece a reação das pessoas, algo que tem a ver com a autoridade de Jesus. O assombro, pelo menos neste caso, não é tanto pelo conteúdo doutrinal novo que Jesus apresenta, mas pelo novo ensinamento que vem acompanhado de poder. Ele fala, e o que diz se cumpre… Nisso radica a autoridade de Jesus, definitivamente, a autoridade de Deus. Sua palavra não é vazia, não é mera expressão externa, mas goza de uma efetividade especial que o qualifica como Aquele que tem autoridade. Jesus é realmente o Filho de Deus, e o que diz se realiza. Este é o ensinamento novo que começa a maravilhar e a cativar os membros mais simples do povo. Assim se diferençava a palavra de Jesus da dos mestres da lei (v. 22).
Jesus não somente anuncia a chegada do Reino de Deus: suas obras, seus milagres, seus sinais ratificam e confirmam a aproximação deste Reino. Esta atitude de Jesus faz com que ele se converta em um verdadeiro questionamento para os homens e para as mulheres que o escutam e o veem. De fato, nos primeiros capítulos de Marcos, indica-se claramente como Jesus vai ganhando “popularidade” e obtendo crédito como aquele que fala com autoridade.
É importante destacar também o poder de Jesus sobre o mal em todas as suas formas. Muitas vezes, e através dos diversos meios de comunidade, percebe-se uma apresentação do mal como mais poderoso do que o próprio Deus. Nossa fé cristã, neste texto e em muitos outros, na reflexão teológica e espiritual da Tradição da Igreja, nos ensina que o poder de Deus sempre é mais forte do que o do Diabo e do de qualquer forma de mal que possa existir.
Para levar em conta: a sinagoga é a assembleia de fiéis judeus e o lugar de culto e de estudos do Judaísmo. O termo provém do latim sinagoga, e este, do grego synagoge (reunião, congregação). Em hebraico, chama-se Bet ha Keneset, o “lugar de reunião”. É uma instituição muito antiga: considera-se que a sinagoga remonte à antiga Babilônia do século VI a.C. O número de sinagogas cresceu quando se estabeleceu a leitura pública das Escrituras.
Outros textos bíblicos a serem comparados: Mc 2.10; Mc 11.28; Mt 9.8; Lc 4.36; Jo 10.18; Jo 17.2.
Para continuar o aprofundamento destes temas, pode-se consultar o verbete “Autoridade”, no índice temático da Bíblia de Estudo NTLH.
Perguntas para a leitura
  • Quem são as personagens que aparecem no relato deste Domingo? Em que ordem “vão entrando” em cena?
  • Que ações realiza cada uma das personagens? Detectar verbos, adjetivos etc.
  • Que lugares são nomeados no relato?
  • No começo, com quem Jesus está? Aonde se dirigem?
  • Qual é a atitude das pessoas diante do ensinamento de Jesus?
  • Qual é a reação do “espírito mau”?
  • O que Jesus lhe diz? O que lhe ordena?
  • O que faz, então, o “espírito mau?”
  • Que pergunta as pessoas fazem a si mesmas no final do relato? Que conclusões tiram?

2 – MEDITAÇÃO

O que me diz? O que nos diz?
Perguntas para a meditação
  • Aceito o ensinamento de Jesus para minha vida?
  • De que modo o ensinamento de Jesus chega até mim na atualidade?
  • Que valor atribuo à Palavra de Deus na Escritura, no ensinamento do Magistério da Igreja e na vivência das celebrações litúrgicas?
  • Causa-me espanto que Jesus continue, ainda hoje, a agir com autoridade?
  • Percebo que Jesus, hoje, continua agindo com autoridade na celebração de todos os sacramentos onde o que a Palavra de Deus diz realmente se cumpre?
  • Ofereço a Jesus os “espíritos maus” de meu coração, a fim de que ele os “silencie” e os “expulse” com seu poder?
  • Em que medida me animo a agir com autoridade em minha vida cotidiana?
  • Pratico o bem e a verdade que creio e que anuncio?
  • Tenho a tendência a ficar somente nas palavras e nas boas intenções?

3 – ORAÇÃO

O que lhe digo? O que lhe dizemos?
A Constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, insiste em vários parágrafos sobre esta autoridade de Jesus, indicando que ele se revela e revela o Reino em “palavras e obras”. Temos aqui o número 4 do supracitado documento, onde se insiste nesta ideia. Uma leitura atenta e espiritual pode dar-nos pistas para nossa oração no marco da Lectio Divina.
La Constitución Dei Verbum del Concilio Vaticano II insiste en varios apartados sobre esta autoridad de Jesús señalando que el se revela y revela al Reino en “palabras y obras”. Tenemos aquí el número 4 de dicho documento donde se insiste en esta idea. Una lectura atenta y espiritual puede darnos pistas para nuestra oración en el marco de la Lectio Divina.
4. Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Hb 1.1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1.1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3.34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5.36; 17.4). Por isso, Ele, vê-lo a Ele é ver o Pai (cfr. Jo 14.9), com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está conosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna.
Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não se há-de esperar nenhuma outra revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. 1 Tim 6.14; Tt 2.13).

4 – CONTEMPLAÇÃO

Como interiorizo a mensagem? Como interiorizamos a mensagem?
Pode ajudar nossa interiorização da mensagem na contemplação o perguntar-nos e o responder-nos em relação ao que nos causa admiração, nos causa espanto no Senhor hoje…
  • Senhor Jesus, admira-me tua entrega generosa.
  • Senhor Jesus, espanta-me tua autoridade coerente.
  • Senhor Jesus, encanta-me tua misericórdia.
  • Senhor Jesus, surpreende-me …
  • Senhor Jesus, maravilha-me…

5 – AÇÃO

A que me comprometo? A que nos comprometemos?
Propostas pessoais
  • Tentar ser coerente no que digo e no que faço.
  • Aproximar-me do Sacramento da Reconciliação, a fim de que Jesus expulse de mim “os espíritos maus” do pecado que podem aninhar-se em meu coração.
Propostas comunitárias
  • Convocar uma reunião do grupo de jovens para conversar sobre o tema da autoridade nos diversos níveis da sociedade contemporânea (família, comunidade, bairro, povoado, política, meios de comunicação etc.), à luz da proposta de Jesus no Evangelho.
  • Pensar em uma proposta concreta para poder ser instrumento de Cristo no ato de “silenciar” e “expulsar” o mal do mundo (“espírito mau”) em todas as suas formas.

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