Por Mário Correia[1]
“Ao Pai, no Filho, pelo Espírito
unido à Maria”.
Profunda relação com Deus, misterioso vínculo entre o
divino e o humano, assim podemos definir espiritualidade. No caso de Maria, sua
profunda relação com Deus faz brilhar
o esplendor da divindade e a nobreza da humanidade[2]. Ela,
mulher simples de Nazaré, de típicos traços femininos, é convidada, como todos
nós, a estabelecer uma profunda, significativa e misteriosa relação com o Deus trinitário. Por ter vivido seu
processo humano de compreensão e crescimento na fé e pelo o que Deus realiza
nela a partir de sua livre disponibilidade, a temos como modelo de
espiritualidade trinitária[3]. Na profunda relação de Maria com o Pai, com
o Filho e com o Espírito evidencia-se a grandiosidade do encontro entre a
impotência humana e a potência divina, a humana experiência afetiva de uma mãe
com a efetiva realização da graça trinitária[4]. Maria é,
por graça divina, sacramento de Deus no
mundo, ícone do mistério trinitário[5],
símbolo do mistério que abrange a
verdade sobre Deus e sobre o homem na tríplice condição de virgem, mãe e esposa.
Como virgem, Maria
se coloca de modo receptivo diante do Pai, como quem recebe, deixa-se amar,
como o eterno Amado, o Filho. Ela é a virgem fiel, ícone do Filho, pois traz as
marcas do eterno estar do Filho diante do Pai, do estar do Amado diante daquele
que é eterno Amante. Maria, virgem, é também ícone do homem. Ela revela ao
homem o desígnio do Criador mostrando que o homem foi feito por Ele e para Ele.
Como Maria, o homem é chamado a ser ouvinte da Palavra pronunciada pelo Pai e
convidado a se colocar diante d’Ele como amado.
Como mãe, sua
gratuidade e bondade nos remete à fonte de amor que dá a vida e toma a
iniciativa de amar, doar-se, como o eterno Amante, o Pai. Ao gerar o Filho,
Maria manifesta a gratuidade irradiante do amor de Mãe, amor fontal, doador,
gratuito, tal como o amor do Pai. Ela é ícone do Pai por evidenciar não só a
ternura, mas também a fecundidade divina; não só a gratuidade irradiante de
Deus Pai, mas também Seu amor visceral de mãe. Maria é ícone da humanidade, de
todo ser vivente. Ela é protótipo da nova criação, evidenciadora do novo início
do mundo. Nela se reconhece que cada ser humano é originalmente e
estruturalmente convidado a amar, com a sublime vocação de se realizar amando.
Como esposa, Maria
é a nova arca da aliança que une o céu e a terra, vínculo de comunhão entre o
Pai, o Filho e o mundo, como o eterno Amor, o Espírito. O Espírito realiza em Maria
o que Ele é no seio trinitário, vínculo de comunhão, sem confusão nem misturas.
Por outro lado, Maria é ícone desse mesmo Espírito por ser humilde imagem
feminina de vínculo de amor. Por obra do Espírito, ela é santifica e
glorificada, concretizando eternamente a realização da esperança humana,
tornando-a eterno Amor, como o Espírito Santo o é. Assim, Maria, Virgem, Mãe e Esposa,
santificada e glorificada, revela, em sua biografia total, o plano de Deus para
a criatura humana. Ela, a mulher nova, é ícone do homem novo, modelo acabado da
antropologia teologal, do homem realizado na graça do Pai, segundo a imagem do
Filho, mediante a ação do Espírito.
O misterioso
vínculo de Maria com a Trindade sugere
para nós uma espiritualidade profunda e enriquecedora. É o Espírito que conduz
Maria a confiar, abandonar, a acolher a presença Divina em sua tenda e
experimentá-la nas múltiplas relações. O resultado de sua relação com o Pai é a
sua maternidade tornar-se símbolo do
gerar da paternidade de Deus, participando assim, de modo privilegiado, do
gerar, do amar do Pai no mundo. Quanto à sua relação com o Filho, podemos destacar
sua livre alteridade de acolhê-lo e, posteriormente, em dá-lo ao mundo. Com
efeito, tudo o que se realiza nela é obra do Espírito Santo: Maria é obra-prima
d’Ele e, por isso, modelo para todo ser humano, graças à sua disponibilidade e
gratuidade. Como o Espírito a conduz para o seio trinitário, conduz também a
cada um a contemplar Maria, aprender com ela e, como ela, estabelecer uma profunda e misteriosa relação com a
Trindade.
BIBLIGRAFIA BASE
FORTE, Bruno. Maria,
a mulher ícone do mistério. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.
AA.VV. Maria e a
Trindade: implicações pastorais, caminho pedagógico, vivência da
espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2002.
[1]
Seminarista graduado em Filosofia e granduando em Teologia pelo Instituto de
Filosofia e Teologia Santa Cruz.
[2] cf. Lc 1,28.30.
[3] cf. Lc 1,26-38; Jo 2, 3.5; 19, 26.27..
[4] cf. Lc 1,37.
[5] cf Mt 1,16.20.23;
Mc 6,3; Lc 1,35.48; 2, 51; 11,27; Jo 19,26.27; At 1,14; Ap 12,1.
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