O Todo se revela no
fragmento. O Todo é o Mistério divino, o fragmento é uma mulher de Nazaré, Maria. Ela
é um humilde fragmento da humanidade que resplandece a Glória da Trindade. Nela
a densidade do Todo se torna acessível, visível, tocável e, acima de tudo,
contemplado. Para essa contemplação é preciso superar a moderna e presunçosa
racionalidade de querer abarcar, compreender, perscrutar tudo, obtendo ideias
claras e distintas de todas as coisas, desejando saciar a sede de totalidade.
Isso implica uma opção por um modelo diferente do adotado comumente. Trata-se
do modelo narrativo e simbólico, a via da
verdade e a via da beleza.
Considerando isso, nas narrativas evangélicas, Maria se nos apresenta como ícone, como símbolo que nos reporta a
uma realidade muito mais profunda e densa. Nesse sentido, ela nunca assume o
lugar que é do Senhor, do Altíssimo, mas sempre aponta para ele.
Não se trata de suprimir a humanidade
e a concretude dessa mulher de Nazaré que viveu seu processo humano de
compreensão e crescimento na fé. Trata-se, antes, de ver o que o Divino
realizou nela a partir de seu livre consentimento. Trata-se de perceber os
reflexos da Glória divina em sua profunda e densa relação com o Pai, com o Filho
e com o Espírito Santo. Portanto, a chave de nossa reflexão é trinitária. Com
isso, vê-se nela a impotência humana e a
potência divina, a humana experiência afetiva com a efetiva realização das
pessoas trinitárias. Maria é um lugar concreto de encontro do humano e do
Divino. O que se realiza nela é obra do Espírito, artífice do Pai e do Filho. É
o Espírito que a une à Trindade, conduzindo-a ao seio trinitário, fazendo-a
experimentar o Divino nas múltiplas relações. É também isso que o Espírito quer
realizar em nós.
São João Damasceno
diz que o nome de Mãe de Deus, por si mesmo, contém todo o mistério da economia da
salvação. Parece exagero tal afirmação, mas se perscrutarmos sua densa,
sóbria e discreta apresentação nas Escrituras,
veremos que nela transparece o mistério cristão em sua profundidade. Nela se
contempla o mistério da aliança entre o céu e a terra visto na perspectiva do
humano. Ela foi convidada a ser mãe do Messias sem deixar de ser mulher em sua concretude histórica,
contextual e geográfica. Ela é uma mulher profunda e meditativa, experimentada
no silêncio e na escuta, forte, afetuosa e resistente na dor. Maria traz os
traços típicos de uma mãe amorosa e é assim que ela se torna um lugar concreto
de união entre o céu e a terra, entre o divino e o humano.
Em seu rico profundo simbolismo, Maria é ícone do mistério
trinitário: da
descida e ascendência do Verbo, da Presença do Pai, da morada do Espírito. Nela
a Glória escondida é desvelada em seu esplendor! O mistério que ela porta
abrange a verdade sobre Deus e o homem, verdade trinitária-antroplógica na
tríplice condição de virgem, mãe e
esposa. Como virgem, Maria se
coloca de modo receptivo diante do Pai, como quem recebe, deixa-se amar, como o eterno Amado, o Filho. Como mãe, sua gratuidade e bondade nos remete
à fonte de amor que dá a vida e toma a iniciativa de amar, doar-se, como o
eterno Amante, o Pai. Como esposa, Maria
é a nova arca da aliança que une o céu e a terra, vínculo
de comunhão entre o Pai, o Filho e o mundo, como o eterno Amor, o Espírito.
Portanto, Maria é um espelho do mistério trinitário e modelo antropológico.
Nela brilha o esplendor da divindade e a nobreza da humanidade. Ela é ícone do
mistério trinitário!
Goiânia, 13 de maio de 2012.
Festa de Nossa Senhor de Fátima, dia das mães.
Por: Mário Correia
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