terça-feira, 19 de junho de 2012

MARIA, ÍCONE DO MISTÉRIO TRINITÁRIO

"Toda de Deus e tão humana."

 O Todo se revela no fragmento. O Todo é o Mistério divino, o fragmento é uma mulher de Nazaré, Maria. Ela é um humilde fragmento da humanidade que resplandece a Glória da Trindade. Nela a densidade do Todo se torna acessível, visível, tocável e, acima de tudo, contemplado. Para essa contemplação é preciso superar a moderna e presunçosa racionalidade de querer abarcar, compreender, perscrutar tudo, obtendo ideias claras e distintas de todas as coisas, desejando saciar a sede de totalidade. Isso implica uma opção por um modelo diferente do adotado comumente. Trata-se do modelo narrativo e simbólico, a via da verdade e a via da beleza. Considerando isso, nas narrativas evangélicas, Maria se nos apresenta como ícone, como símbolo que nos reporta a uma realidade muito mais profunda e densa. Nesse sentido, ela nunca assume o lugar que é do Senhor, do Altíssimo, mas sempre aponta para ele.

Não se trata de suprimir a humanidade e a concretude dessa mulher de Nazaré que viveu seu processo humano de compreensão e crescimento na fé. Trata-se, antes, de ver o que o Divino realizou nela a partir de seu livre consentimento. Trata-se de perceber os reflexos da Glória divina em sua profunda e densa relação com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. Portanto, a chave de nossa reflexão é trinitária. Com isso, vê-se nela a impotência humana e a potência divina, a humana experiência afetiva com a efetiva realização das pessoas trinitárias. Maria é um lugar concreto de encontro do humano e do Divino. O que se realiza nela é obra do Espírito, artífice do Pai e do Filho. É o Espírito que a une à Trindade, conduzindo-a ao seio trinitário, fazendo-a experimentar o Divino nas múltiplas relações. É também isso que o Espírito quer realizar em nós. 

São João Damasceno diz que o nome de Mãe de Deus, por si mesmo, contém todo o mistério da economia da salvação. Parece exagero tal afirmação, mas se perscrutarmos sua densa, sóbria e discreta apresentação nas Escrituras, veremos que nela transparece o mistério cristão em sua profundidade. Nela se contempla o mistério da aliança entre o céu e a terra visto na perspectiva do humano. Ela foi convidada a ser mãe do Messias sem deixar de ser mulher em sua concretude histórica, contextual e geográfica. Ela é uma mulher profunda e meditativa, experimentada no silêncio e na escuta, forte, afetuosa e resistente na dor. Maria traz os traços típicos de uma mãe amorosa e é assim que ela se torna um lugar concreto de união entre o céu e a terra, entre o divino e o humano.

Em seu rico profundo simbolismo, Maria é ícone do mistério trinitário: da descida e ascendência do Verbo, da Presença do Pai, da morada do Espírito. Nela a Glória escondida é desvelada em seu esplendor! O mistério que ela porta abrange a verdade sobre Deus e o homem, verdade trinitária-antroplógica na tríplice condição de virgem, mãe e esposa. Como virgem, Maria se coloca de modo receptivo diante do Pai, como quem recebe, deixa-se amar, como o eterno Amado, o Filho. Como mãe, sua gratuidade e bondade nos remete à fonte de amor que dá a vida e toma a iniciativa de amar, doar-se, como o eterno Amante, o Pai. Como esposa, Maria é a nova arca da aliança que une o céu e a terra, vínculo de comunhão entre o Pai, o Filho e o mundo, como o eterno Amor, o Espírito. Portanto, Maria é um espelho do mistério trinitário e modelo antropológico. Nela brilha o esplendor da divindade e a nobreza da humanidade. Ela é ícone do mistério trinitário!

Goiânia, 13 de maio de 2012.
Festa de Nossa Senhor de Fátima, dia das mães. 

Por: Mário Correia

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