segunda-feira, 22 de abril de 2013

Homilia de Dom Josafá Menezes da Silva Ordenação do Diácono Maycon Battisti




Caríssimos padres da Diocese de Barreiras, uma saudação ao Padre Miguel, membro do clero da Diocese de Apucarana, filho de baiano, visitando-nos desejoso de fazer uma experiência missionária conosco; saúdo também Frei Rivaldo, representando a Província Capuchinha do Paraná e Santa Catarina, padre Rodrigo, colega de estudos da Arquidiocese de Maringá, autoridades do município de Barreiras e dos outros municípios desta região; prezados diáconos, religiosas, seminaristas, aspirantes à vida sacerdotal e religiosa, prezados pais, irmãs e demais familiares de Maycon.
Irmãos e Irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo.
A ordenação episcopal de Dom Eraldo, a morte do Padre Reinan e a opção que fizemos pela qualificação dos nossos padres tornaram muito mais preciosa esta ordenação presbiteral do diácono Maycon Battisti, preparada com tanto esmero pela comunidade deste Santuário e pelos seus familiares.
A oração de Jesus, repetida pela Igreja, “enviai, Senhor, operários para vossa messe”, assume nas comunidades, especialmente, naquelas que não têm um padre residente a característica de grito angustiado e súplica insistente que o Senhor da Messe, na sua infinita bondade, responde com pessoas bem concretas. Aqui estão Maycon, o ordenando, Daniel, Robervalto, os jovens que estão no Centro Vocacional e tantos outros que no serviço sacerdotal responderam com generosidade ao chamado do Senhor. Tem razão a Mensagem para a 50ª Jornada Mundial de Oração pelas Vocações, celebrada neste domingo em toda a Igreja, assinada pelo Papa Emérito Bento XVI, em outubro de 2012: “Também hoje, como aconteceu durante a sua vida terrena, Jesus, o Ressuscitado, passa pelas estradas da nossa vida e vê-nos imersos nas nossas atividades, com os nossos desejos e necessidades. É precisamente no nosso dia-a-dia que Ele continua a dirigir-nos a sua palavra; chama-nos a realizar a nossa vida com Ele, o único capaz de saciar a nossa sede de esperança. [...] Jesus repete também hoje: «Vem e segue-Me!» (Mc 10,21)”.
“Onde desabrocham as vocações, vive-se generosamente segundo o evangelho” continua a Mensagem da Jornada Mundial de Oração, referindo-se à vitalidade de fé e de amor de cada comunidade paroquial e da Igreja diocesana e à saúde religiosa e moral das famílias cristãs.
O coração de uma família tradicionalmente católica, como a família de Maycon, não se satisfaz de em Barreiras plantar, colher, beneficiar e comercializar as culturas de nosso cerrado, mas quer amar o seu povo, evangelizá-lo e servi-lo.
Escolhemos este sábado do IV do Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, para agradecer pelo chamado Deus, que dirige aos jovens que aqui nascem, aos que vieram para cá ainda pequenos e aos nascendo fora, de alguma maneira, optaram e optam por esta terra e pelos seus filhos, pensado em oferecer-lhes o melhor de si para a construção da Igreja e a instauração do Reino de Cristo Jesus, Nosso Senhor.
Serve-nos neste ponto da reflexão a belíssima homilia do Papa Francisco, por ocasião da Missa dos Santos Óleos de 2013, pronunciada na Basílica de São Pedro, em Roma. Para explicar o serviço sacerdotal, o Papa Francisco toma a imagem do Salmo 133: «É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, que escorrer pela barba de Aarão, ensopa o manto e desce até a borda das suas vestes» (v. 2). Esta é segundo o Papa a imagem da unção sacerdotal, que, por intermédio de Cristo, Ungido do Pai, escorre através dos ministros da Igreja para chegar aos confins do universo. A unção que se recebe na ordenação é destinada ao povo de Deus, especialmente aos pobres, aos oprimidos, aos doentes, aos tristes; aos últimos. É perfume que os presbíteros são chamados a exalar através das pregações, nas celebrações dos sacramentos, no governo humildade da comunidade e até nas situações mais banais da vida. Quando o povo nos importuna está desejando o óleo perfumado que intui que nós o possuímos.
“No mar tenebroso do mundo atual, conclui o Papa Francisco, vale a unção – não a função - e só resultam fecundas as redes lançadas unicamente no nome daquele no qual estamos fundados: Jesus”.
É desta unção que Paulo e Barnabé estão imbuídos no âmbito da primeira viagem missionária de que nos fala a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, 13,14.43-52. Em Chipre, cidade natal de Barnabé, e depois Antioquia da Pisídia, comunidade viva, os dois reúnem, conversam e pregam a Palavra de Deus, nas casas, nas praças e nas sinagogas. Pelos judeus, seus adversários, são recebidos com blasfêmias, calúnias, insultos, desprezo e perseguições. A dureza e a dramaticidade da missão não produzem nos discípulos amargura e medo. São Lucas diz que os apóstolos não perdem a coragem. Ao contrário, vivem os conflitos com muita alegria. Eles programaram a evangelização, traçaram os seus passos: “era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro aos judeus, mas como rejeitaram, nos dirigimos aos pagãos”. Sentem a presença e as palavras fulminantes do Ressuscitado: “Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra!” Eles não têm nenhuma dúvida a respeito da vitória de Jesus, o Senhor. Não dramatizam a situação: hoje se fechou uma porta, amanhã outras abrirão, inclusive as mais trancadas.  Paulo e Barnabé decidem pelo campo complicado: os pagãos. O terreno desprezado pelos judeus se torna campo predileto dos discípulos. Nele, os apóstolos fazem as melhores colheitas.
Na segunda leitura, Apocalipse 7,9.14-17, não são os apóstolos da primeira viagem missionária. São multidões de todas as nações, tribos, povos e línguas, incontáveis como a areia da praia e as estrelas do céu. São muitos os que se santificam e podem evangelizar. “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do cordeiro”. Estão de pé, isto é, vivos como ele e se posicionam “diante dele”, porque estão em plena relação de amizade com ele. É um detalhe interessante a lavagem. As vestes ficam mais brancas quanto mais são lavadas no sangue. Não se sujam, alvejam. O sangue é a doação do cordeiro! Os que se doam ao povo unem o próprio sangue de Cristo. Purificados, purificam o mundo, tornando-o mais justo e mais fraterno.
 A salvação é um dom nós sabemos, surpreende que as multidões a acolham. Vendo os atentados, os crimes, os roubos, as fugas da prisão, a seca, a lagarta nos pastos e nas plantações, nós poderíamos pensar que o mal está se difundindo. Que as pessoas e a nossa região vão se destruir. O vidente do Apocalipse tem outros olhos, possui uma visão mais profunda: vê a salvação de muitos.
 Concluo esta meditação com o evangelho de Jesus Cristo. É a imagem que está no convite desta ordenação. Jesus, o pastor bom, que carrega nos ombros uma ovelhinha cansada, talvez ferida e destinada a morrer. “Eu sou o bom Pastor. O bom pastor dá vida por suas ovelhas [...] As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e eles jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão... E  ninguém poderá arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um” (Jo 10,27-30).
Os pastores palestinos apascentavam os seus rebanhos na seca do deserto de Judá, nas areias esturricadas daquelas regiões. Era dura e perigosa a vida dos pastores. Os maus pastores se aproveitavam e engordavam ao prejuízo das ovelhas. O bom pastor aproveita a ocasião para ofertar a própria vida.
“Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão”. O Cordeiro oferece aos seus amigos o dom permanente da vida eterna.
O Papa Francisco fala de pastores com o odor de ovelhas. Sejamos pessoas que se alegram pelo que servem e não por serem servidas. A descrição que o padre Verneson fez na apresentação do candidato, referindo-se à experiência pastoral em Brejolândia e em Barreiras nas paróquias Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Santa Rafaela Maria e no Centro Vocacional são uma demonstração de um pastor nos moldes do coração de Cristo; conservando inclusive traços de sua tradição franciscana.
Na prece de consagração, que faremos em seguida, pedimos ao Senhor que renove no coração de Maycon Battisti o espírito de santidade e que ele obtenha os bens que procedem de Deus através da ordem do presbiterado. Apascentado, possa o ministro constituído nesta liturgia, apascentar o rebanho de Cristo, conduzindo às fontes borbulhantes de justiça e de paz.
O Cristo que renova todas as coisas preside o painel deste presbitério do Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Que ele renove a santidade de todos nós que compomos presbitério da Diocese de Barreiras e revigore as religiosas, os diáconos, os seminaristas do seminário maior e do propedêutico, os jovens neste ano da JM e os fiéis todos que se doam nesta diocese.
Termino com uma citação de Santo Agostinho. Aqui tem o tema da ovelha que está nas mãos do Pastor. Nós somos pastores no pastor.
“Mendiga diante da porta de Deus; bate e abrir-se-á. Quanto à mim, estou desvalido e pobre, mas o Senhor cuidará de mim (Sl 54,23). Por que hás de preocupar-te contigo? Ele que antes de existires cuidou de ti, como não cuidarás quando já és aquilo que quis que fosses? [...] Agora que já és justo e vives da fé, há de negligenciar, abandonar, deixar? Ao contrário, favorece, ajuda, dá o necessário, corta o que é prejudicial [...] O Senhor cuida de ti, fica tranqüilo. Teu criador te sustenta, não escapes da mão de teu artífice, porque se caíres tu te quebrarás [...]Lança-te nele; não penses que é um precipício [...] Ele jamais te faltará!” (Santo Agostinho, Comentário ao salmo 39, p. 667). 


+ Dom Josafá Menezes da Silva
Bispo da Diocese de Barreiras.

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