sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dom Ricardo- Um ano de falecimento. Homilia de Pe. Cristiano

Homilia de Pe. Cristiano na Missa no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Barreiras em 17.08.2011

Leitura: 2Tm 4,1-8; Evangelho: Mt 5,13-16
A leitura que escolhi para esta missa é da carta do apóstolo Paulo a Timóteo. Timóteo era discípulo de Paulo. Não chamamos Timóteo de apóstolo, mas de bispo, porque apóstolos são só os primeiros doze mais o apóstolo Paulo. Os seus sucessores, consagrados por eles, são os bispos, só os bispos católicos, porem, estão nesta verdadeira sucessão apostólica, não aqueles que se autodenominam hoje.

Nesta leitura encontra-se o lema do nosso novo bispo D. Josafá: “Proclame a palavra” (v. 2), escolheu-o já em 2005 quando se tornou bispo auxiliar de Salvador.  Poucos versículos depois lemos as palavras que D. Ricardo citou no seu testamento e nas últimas notícias: “Chegou o momento da minha partida. Combati o bom combate, terminei minha corrida, guardei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça...(vv.5-7). Como estão próximas, estas palavras do 1º e do 2º bispo de Barreiras, como se ilustrassem a sucessão apostólica, passando o cargo de um para outro, no mesmo Espirito Santo. Lembro-me como D. Josafá nos agradou tanto quando disse na sua homilia de posse, que gostaria de continuar a obra de D. Ricardo.

D. Ricardo faz parte da nossa vida pessoal e familiar. Quantas pessoas ele batizou! E mais ainda: Crismou toda a Barreiras e toda e região, toda Diocese. Tantas celebrações e visitas! Ele fazia parte da nossa vida. Cada um de vocês também poderia contar muitas coisas a respeito dele.

Então, eu gostaria de contar como ele fazia parta da minha vida. Ele nasceu na minha terra, na Áustria e passou a primeira metade da sua vida lá. Nasceu em 05.09.1939em BadLeonfelden, foram tempos difíceis, porque neste mês começou logo a segunda guerra mundial. O pai dele não apoiou os nazistas, por isso foi transferido com sua família para outra pequena cidade. Em Gaspoltshofen o pai gerenciou uma usina de leite, e Ricardo, que se chamava ainda José, foi criado lá. Minha mãe era professora dele na 8ª série e se lembra de que José era muito inteligente. Fez 2º grau no Colégio dos Beneditinos no mosteiro de Kremsmünster, onde ingressou em 1958. Fez o noviciado e seu nome mudou para Ricardo. Como era muito inteligente, foi enviado para estudar em Roma e fez dois doutorados, em filosofia e teologia. Foi ordenado sacerdote em 1964. Foi um tempo de graças em Roma, porque aconteceu o Concílio Vaticano II que trouxe tanta mudança boa para a Igreja. Nos próximos quatro anos vamos comemorar os 50 anos deste Concílio que durou de 1962 a 1965.
Ricardo começou uma carreira de professor, mas Deus o escolheu como pastor. Como chegou ao Brasil? No ano 1777 o seu mosteiro fazia o jubileu de 1000 (mil!) anos. Então os monges beneditinos começavam a pensar: “Como comemorar, talvez construir um igreja jubilar? Mas já existem tantas igrejas na Áustria.” Motivados pelo Concílio resolveram construir uma igreja não de pedras, sim de pessoas, ou seja disponibilizar padres para regiões carentes. Aconteceu que o bispo de Barra, D. Tiago, estava visitando Europa para conseguir padres para sua imensa região. Barreiras e Bom Jesus da Lapa ainda faziam parte da Diocese de Barra, então era quase a metade da Bahia. O abade e os monges concordaram em enviaram os primeiros três padres Beneditinos para Barreiras. Isso foi em 1970. Depois deles, chegou Pe. Ricardo em 1974, logo depois também Pe.Geraldo. D. Tiago já queria desmembrar Barreiras, e Ricardo construiu a casa do futuro bispo sem saber que seria ele o escolhido. Em 1979 foi ordenado como 1º bispo de Barreiras, e tomou posse em agosto do mesmo ano. Quando se acha que o mês de agosto é o mês de desgosto e azar - e D. Ricardo morreu em agosto-, mas pensem bemquanta sorte foi para Barreiras esta posse em agosto, e quantos benefícios se seguiram.

D. Ricardo estruturou a Diocese. Havia poucos padres, apenas  três brasileiros já idosos: Monsenhor Armindo em Barreiras, Monsenhor Francisco em Cristópolis e Pe.Pedro e St.ª Rita de Cássia. A maioria dos padres eram estrangeiros, hoje só existe um, eu. D. Ricardo criou um clero brasileiro, o primeiro ordenado foi  Pe. Jacy, depois  Pe. Paulo Romeu, hoje bispo de Alagoinhas. D. Ricardo trouxe congregações femininas, começando com as Beneditinas da Áustria,- Ir. Sabina ainda está aqui -, logo depois vieram as irmãs da Providência, Irmãs Aline e Ir. Magaly. Incentivou a participação e a formação de leigos, recentemente de diáconos. Construiu muitas igrejas, centros comunitários, a Casa de Retiro S.Bento, o Abrigo dos Idosos, várias escolas e creches. Pastorais e movimentos foram crescendo.

A Pastoral Social, a Justiça e a Reforma Agrária eram assuntos importantes para ele. Nos anos oitenta criticou a grilagem violenta que se alastrou na região. Por isso foi perseguido e caluniado pelas mídias da época. Os políticos não deixaram ampliar a Catedral, mas isto causou um certo efeito colateral positivo. Com o dinheiro arrecadado na Áustria para ter uma igreja maior para o bispo, foi beneficiado o nosso Santuário que era planejado como igreja menor , foi então construído maior e com mais esplendor. S. Paulo já disse: “Penso que os sofrimentos do tempo presente não se comparam coma glória futura ... Quem nos separará do amor de Cristo? Não a injustiça deste mundo, nem a morte.”(cf. Rm 8,18.25.38).

A perseguição mostrou que as palavras de D. Ricardo nem sempre não agradaram todo mundo. Mas eram palavras necessárias como o sal de terra, doce não, mas cheio de sabor, de sabedoria. Suas palavras eram luz do mundo, iluminaram a nossa região.

Eu estou já há 10 anos a frente do santuário. No dia 22 de setembro o Santuário fará 20 anos. Quando me mudei de Barreirinhas para cá, D. Ricardo me convidou para almoçar com ele. Ele não gostava de comer sozinho com a empregada só olhando. Aceitei e tivemos muitas conversas agradáveis na mesa, falamos sobre filosofia e teologia, politica e cultura.

Como todos vocês eu sinto saudade dele e gratidão. No meu carro ainda tem o adesivo que Rembrandt fez um ano atrás. E muitos outros carros têm ainda os mesmos adesivos. Assim D. Ricardo continua presente, até visivelmente. Sinto muita saudade dele e gratidão, e tenho esperança. Espero de encontrá-lo de novo na mesa do banquete da vida eterna no reino de Deus. Será uma alegria muito grande.

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