sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Homilia pronunciada na Igreja da Transfiguração – Mosteiro de Kremsmünster – Áustria

17 de agosto de 2011
1º aniversário de falecimento de Dom Ricardo Weberberger





Estamos aqui reunidos para agradecer a Deus o dom da vida de Dom Ricardo Weberberger, austríaco, Monge Beneditino de Kremsmünster, primeiro Bispo da Diocese de Barreiras. A sua vida sacerdotal foi um presente para este mosteiro e os trinta e um anos de episcopado a maior dádiva de Deus para a Diocese de Barreiras e para a Igreja da Bahia e do Brasil. Terminada esta cerimônia litúrgica, nós vamos ao cemitério e sobre o seu túmulo a síntese de sua vida: “Ricardo Weberberger” 1939-2010. 1979-2010 “Erster Bischof von Barreiras. Ba”. Redemptor Hominis”.
Nesta Eucaristia, dizemos com Jesus ao Pai, “muito obrigado” e pedimos a recompensa que Deus reserva ao servo bom e fiel que ele foi.
Esta ação de graças é uma extensão da celebração que acontece na querida Diocese de Barreiras. O dia 17 de agosto de 2010 é inesquecível. Quando o toque fúnebre do sino da Ccatedral de São João Batista anunciou a morte de Dom Ricardo e a notícia correu pelos recantos da Diocese. Todos choraram como quem perde um pai, um amigo e um irmão. As suas palavras, os seus gestos e as suas obras continuam ainda hoje dando vida à Diocese de Barreiras.

Como discípulo de Jesus, Mt 5,1-12, foi o homem das bem-aventuranças: homem com o coração de pobre, manso, sedento de justiça, apaixonado e misericordioso, homem perseguido e entregue à morte pelo bem do povo de sua Diocese. Mais do que satisfações provisórias, soube buscar as bem-aventuranças: felicidade verdadeira, plena e grandiosa.
A recordação que os Padres, os Diáconos Permanentes, as Religiosas, os Seminaristas, as Lideranças das Comunidades e o povo em geral, conservam ainda hoje de Dom Ricardo, é de um pastor, segundo o coração de Deus. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas diz Jesus no evangelho. Foi assim que ele mesmo compreendeu o seu ministério desde o dia de sua ordenação episcopal: Não esperem grandes obras de mim, sou um homem limitado. Mas fiquem sabendo que quero doar a minha vida a vocês, que quero – de todo o coração – mostrar-lhes o caminho para Jesus Cristo, que é o redentor do homem. Juntos vamos construir esta nova Diocese, uma parcela do ‘Reino’, uma parte da Igreja universal (Mensagem ao povo de Barreiras – Dia de sua Ordenação Episcopal).
Eu não poderia ter um antecessor melhor do que o primeiro Bispo de Barreiras. Do ministério de Dom Ricardo, nasceu uma Diocese dinâmica do ponto de vista pastoral, organizada administrativamente, madura do ponto de vista litúrgico-sacramental e, historicamente, comprometida com as grandes causas do povo sofrido da região.

Depois de quase cinco meses em Barreiras, tendo visitado todas as Paróquias, visto as obras sociais, as pastorais, os movimentos e os outros carismas, confirmo o que disse no dia de minha posse: nenhum bem falta à Igreja de Deus que está em Barreiras.
Foi também por essa certeza, um ano atrás, quando ia se dando conta da gravidade da doença, diante da possibilidade real de antecipar a conclusão de seu ministério escreveu: “A paz que sinto no coração é fruto das muitas orações por mim – mas como fazer, falar para que “todos” possam sentir” paz e a confiança e não fiquem preocupados demais – preocupação de tristeza...

Que palavra bonita “Tradidi quod potui” (na grade de ferro na entrada da capela de S. Miguel no Mosteiro”). Neste sentido – posso dizer que fiz o que me foi possível – mas significa também é bom que “outro” (Bispo) continue.

Como segundo Bispo Diocesano de Barreiras, devo partir da belíssima hereditariedade e das intuições do meu predecessor para afrontar os sinais dos novos tempos. Cito somente quatro. Ontem, a presidente da Republica do Brasil, Dilma, elevou o campus da UFBA de Barreiras a condição de Universidade Federal do Oeste, um campus autônomo. Segundo, é prevista para o dia 19 de agosto, uma manifestação política em favor da criação do Estado do Rio São Francisco com o lançamento de um livro que retoma a difícil história da região. Terceiro. Os Bispos do Regional Nordeste 3 estão discutindo a criação de novas Províncias Eclesiásticas e Barreiras é candidata a ser uma nova sede. Quarto, além da grande agricultura (soja, algodão, milho, frutas, etc.), da agricultura familiar, dos recursos hídricos, em Barreiras foi descoberta uma jazida de um minério raro, o tálio, cuja exploração, beneficiamento, transporte e comercialização trarão benefícios e preocupações.

As estruturas iniciadas por Dom Ricardo deverão ser atualizadas. Sinto a necessidade de ampliar e organizar melhor a Cúria Diocesana; construir um Centro Vocacional para acolher os jovens que estão iniciando a vida no seminário; construir novas igrejas; criar novas Paróquias; provê-las de casas paroquiais, centros de formação, secretarias e de outras estruturas pastorais; construir uma igreja dedicada a São Bento e Memorial de Dom Ricardo; formar as crianças, os adolescentes e a juventude desorientadas pela falta de estrutura familiar, pelo descuido das lideranças políticas e pela cultura hedonista; defender as famílias do campo contra a espoliação de suas terras, contra o  trabalho  escravo; promover o desenvolvimento social, defender e promover as comunidades tradicionais ameaçadas pelos novos investimentos, apoiar o trabalho do Diácono Martin Mayr através da Agência 10envolvimento na defesa do meio ambiente contra  os projetos que desmatam e não têm em conta as nascentes e os outros recursos hídricos da região, etc.

O oeste da Bahia é uma região de amplas extensões de terra para a agricultura e pecuária. Tradicionalmente, quem teve, tem e adquire propriedades o faz para enriquecer. As lideranças políticas são normalmente lideranças econômicas e têm a mesma mentalidade. Não estão preocupadas com o bem-comum. A Igreja sempre foi promotora do bem comum, do desenvolvimento social, da proteção e sustentabilidade do ambiente, da conscientização dos direitos da terra, moradia, à educação, à saúde, a uma vida digna, etc. A Diocese de Barreiras deverá continuar a ser ponto de defesa e proteção das populações mais desfavorecidas.
Kremsmünster estava se preparando para festejar 1200 de fundação em 1977. O Abade Alberto não querendo construir somente uma igreja de pedra, inspirado na concepção missionária do Vaticano II, pensou edificar a igreja viva, uma igreja particular. Padre Ricardo, os outros padres, as Irmãs Beneditinas, os oblatos, os voluntários e amigos de Kremsmünster saíram daqui com esse objetivo. Dom Ricardo, nomeado Bispo, soube sempre coordenar e motivar uma imensa obra de solidariedade em favor, primeiro da Igreja de Barra, depois da Diocese de Barreiras e de toda região do sertão da Bahia. Mesmo depois de seu desaparecimento físico, sei que ele continua amando Barreiras e coordenando do céu os seus trabalhos. A mim e todos vós, ele pede de continuarmos o seu nobre ideal. Que o Redentor do Homem nos ajude, nossa Senhora nos dê coragem e São Bento nos ajude a rezar e a trabalhar.

Em nome do povo de Barreiras, agradeço a participação dos Bispos, Ludwig, Maximiliano e Dom Paulo Romeu. Ao Abade Ambros, ao Abade Oddo, ao Padre Prior, Daniel, aos Padres, Geraldo, Arno, David que estiveram e ainda hoje trazem Barreiras dentro do coração; aos outros Padres e Irmãos do Mosteiro de Kremsmünster, às Irmãs Beneditinas que estiveram no Brasil, a Ir. Sabina; aos amigos das Paróquias de Kremsmünster, de Linz e de outras partes da Áustria e da Itália que não esquecem a Diocese de Barreiras, aos membros da família Weberberger, às Irmãs Franciscanas Marianas Missionárias que vieram do Brasil, aos que conheceram e colaboraram com Dom Ricardo. Enfim, aos que participando desta celebração de um ano de falecimento de Dom Ricardo, estão dando a todos nós, provas de amor, de dedicação e de amizade. Deus abençoe e continuemos firmes no Senhor e trabalhando para o bem da Igreja de Deus que está em Barreiras! Amém! 




Dom Josafá Menezes da Silva
Bispo da Diocese de Barreiras.


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